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Jean de La Fontaine: O homem que fez as fábulas falarem como gente

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • há 3 dias
  • 2 min de leitura

Em 13 de abril de 1695, a França se despedia de Jean de La Fontaine, mestre das fábulas, poeta filosófico e crítico sutil da sociedade absolutista. Suas histórias com bichos falantes cruzaram séculos, mas não foram feitas para crianças — pelo menos, não no começo. Nascido em 1621, em Château-Thierry, La Fontaine viveu em pleno apogeu de Luís XIV, mas com uma verve que contrariava o brilho do Rei Sol. Escondido por trás da simplicidade das fábulas, ele usava os animais como espelhos da alma humana, expondo vaidades, injustiças e hipocrisias.


Retrato artístico de Jean de La Fontaine cercado por animais simbólicos
Arte: SK

Inspirado por Esopo e Fedro, La Fontaine reinventou o gênero fabular para denunciar, com ironia elegante, os jogos de poder, os excessos da corte e as desigualdades sociais. Sua escrita era leve, musical, mas profundamente crítica. Ao contrário de muitos autores de seu tempo, não buscava apenas agradar o soberano, mas provocar reflexão. Em "O Lobo e o Cordeiro", por exemplo, mostra como a razão dos poderosos esmaga os mais fracos — uma crítica velada ao absolutismo. A beleza de suas fábulas está no equilíbrio entre lirismo e lucidez.


Seu primeiro volume de fábulas saiu em 1668, dedicado ao Delfim (filho de Luís XIV), estratégia diplomática para escapar da censura. Mas ele já era conhecido por sua vida boêmia e obras libertinas, como os "Contos e Novelas em Verso", que o colocaram na mira dos moralistas. Ainda assim, foi eleito para a Academia Francesa em 1684, apesar da resistência do clero e dos conservadores. Era um autor paradoxal: piedoso no fim da vida, mas irreverente na juventude; recluso em certos momentos, mas com amigos como Molière, Racine e Boileau.


La Fontaine viveu num tempo em que a palavra podia ser perigosa — e mesmo assim, escolheu usá-la com astúcia e sensibilidade. Seus animais falam, mas quem escuta são os humanos. Sua obra ecoa em escolas, teatros, discursos políticos, memes e slogans publicitários. No século XXI, suas fábulas ainda nos lembram que o mais forte nem sempre é o mais justo, e que a astúcia pode vencer a força bruta. A linguagem mudou, mas a moral — essa, continua viva.


Curiosidade


Poucos sabem que Jean de La Fontaine era considerado um péssimo orador. Ele mal falava em público e preferia o silêncio às aparições sociais. Suas palavras só fluíam mesmo no papel — como se os animais falassem por ele.


🧠 Referências


  • Université de Paris – Centre de Recherches sur la Littérature Classique

  • Bibliothèque nationale de France (BNF)

  • Académie Française – Archives officielles

  • “La Fontaine: Une école de la liberté” – Patrick Dandrey (Gallimard)

 
 
 

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