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O aroma que move o mundo: o legado histórico do café

  • Foto do escritor: Sidney Klock
    Sidney Klock
  • há 2 dias
  • 2 min de leitura

No dia 14 de abril, celebramos o Dia Internacional do Café, uma homenagem ao grão que, mais do que uma bebida, tornou-se motor de encontros, revoluções e economias inteiras. O café atravessa continentes com um aroma carregado de histórias. De planta sagrada a moeda de troca, de vício burguês a símbolo de resistência operária, ele carrega em si o gosto de uma globalização muito anterior à internet. Como um ritual secular, sua presença no cotidiano é tão íntima que quase esquecemos o quanto o café moldou a história.


Rituais históricos e culturais do café ao redor do mundo
Arte: SK

Originário das montanhas da Etiópia, o café era conhecido por povos oraculares como os Omíadas e se difundiu no mundo islâmico a partir do século XV. Consumido nos qahveh khaneh, as casas de café do Império Otomano, ele ganhou reputação de bebida subversiva, inspirando debates políticos e religiosos. Sua popularização na Europa foi acompanhada pela desconfiança da Igreja, que chegou a chamá-lo de "bebida do diabo" — até que o Papa Clemente VIII o provou e, encantado, o batizou. A partir daí, o café tomou os salões de Paris e as tavernas de Londres, transformando-se em combustível intelectual da modernidade.


No século XVIII, o café se converte em produto estratégico nas Américas. No Brasil, seu cultivo foi central para a economia imperial e a formação das elites rurais. Os barões do café não só construíram ferrovias e cidades, mas também sustentaram o regime escravocrata por décadas. À sombra das fazendas, ergueram-se casarões e desigualdades. Com o declínio do império e a chegada da república, o ciclo do café deixou raízes profundas na política, nos hábitos sociais e na paisagem cultural brasileira. O cheiro do café ainda ecoa nos rituais domésticos e nos intervalos do trabalho, entre xícaras, conversas e memórias.


Hoje, o café movimenta bilhões, conecta pequenos produtores e grandes corporações, e continua a provocar encontros: seja numa cafeteria hipster em Berlim, numa casa de família no interior do Maranhão ou em rituais cerimoniais na Etiópia. Ele também enfrenta desafios contemporâneos — mudanças climáticas, exploração no campo, precarização do trabalho — que exigem uma nova consciência coletiva. Celebrar o Dia Internacional do Café é também olhar criticamente para o sistema que sustenta cada gole e para o que podemos transformar a partir dele.


Ao celebrar esta data, revivemos séculos de trocas culturais, disputas econômicas e afetos compartilhados. O café é memória líquida: cada gole nos conecta a uma história viva que pulsa no cotidiano. Em um mundo cada vez mais veloz, tomar café pode ser um ato de resistência, de pausa e de conexão com nossas raízes.


☕ Curiosidade


Você sabia que a primeira cafeteria da história foi aberta em Constantinopla em 1475, e que lá, uma mulher podia legalmente pedir o divórcio se o marido não lhe fornecesse café suficiente?


📚 Referências


  • Museu do Café (Brasil) – www.museudocafe.org.br

  • Biblioteca Nacional da França (Gallica BnF)

  • Organização Internacional do Café (International Coffee Organization)

  • BBC History: “The dark history of coffee”

  • Pendergrast, Mark. Uncommon Grounds: The History of Coffee and How It Transformed Our World

 
 
 

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